MENSURAÇÃO PARAMÉTRICA DO CAPITAL DE GIRO POR PRODUTO

 

                    Carlos Alberto Serra Negra * 

 

RESUMO

Muito se tem escrito sobre o capital de giro e sempre ficamos na expectativa que o assunto ainda não se esgotou. Não é por menos, este tema requer uma análise cuidadosa e sempre em múltiplas visões por parte dos profissionais financeiros e contábeis. A estrutura deste trabalho contempla três grandes partes, iniciando pelos conceitos e as diversas visões que existem sobre o capital de giro, mostra os seus elementos e suas interações com o fluxo de caixa e, por fim, evidencia como realizar a mensuração do capital de giro por produto, diferente do modo tradicional de mensurar o capital de giro a partir de grupos ou contas contábeis. Tem como objetivo, portanto, além de mostrar uma nova forma de cálculo do capital de giro a de ampliar metodologias para tomada de decisões na área financeira, incorporando o modelo à Contabilidade Gerencial.

 

1 - INTRODUÇÃO

            Este trabalho tem como finalidade o estudo do capital de giro em uma perspectiva inovadora. O capital de giro é sempre inserido no contexto de decisões das finanças das empresas, permitindo melhor entendimento de como as organizações geram, aplicam e gerenciam seus recursos financeiros.

            O estudo do capital de giro é importante instrumento de conhecimento contábil. Sá (1990) afirma que os capitais que giram sujeitam-se em Contabilidade a estudos específicos, notadamente na área da Dinâmica Patrimonial, onde tendem a merecer considerações relevantes.

            O termo giro refere-se aos recursos correntes (curto prazo) da empresa, geralmente identificada como aqueles capazes            de serem convertidos em dinheiro no prazo máximo de um ano ou o ciclo operacional.

No entanto, qualquer que seja a definição adotada, o conceito de capital de giro identifica os recursos que giram várias vezes em determinado período o qual assume diferentes formas ao longo do processo produtivo da empresa.

            Em sentido amplo capital de giro representa o valor total dos recursos demandados pela empresa para financiar seu ciclo operacional, o qual engloba as necessidades circulantes identificadas desde a aquisição da matéria prima até o recebimento do produto das vendas.

Normalmente os cálculos que envolvem o capital de giro estão intimamente ligados a grupos ou contas contábeis, representando um montante, em determinada data, de recursos agregados de operações realizadas em períodos passados.

            Historicamente, segundo Brigham e Houston (1999) o termo ‘capital de giro’ teve origem com os antigos mascates (vendedores ambulantes) ianques (EUA), que carregavam suas carroças com mercadorias e percorriam suas rotas vendendo seus artigos. A mercadoria era chamada de capital de giro porque era o que o mascate vendia ou ‘girava’, para produzir seus lucros. A carroça e o cavalo eram seus Ativos Fixos. Como o mascate em geral era proprietário da carroça e do cavalo, estes eram financiados com recursos próprios, mas os fundos para comprar as mercadorias costumavam, ser provenientes de empréstimos. Esses empréstimos eram chamados de ‘empréstimos de capital de giro’ e tinham quer ser liquidados a cada viagem, para demonstrar ao banco que o crédito do mascate era bom. Se o comerciante itinerante conseguia pagar o empréstimo que tinha tomado, então o banco lhe fornecia outro empréstimo.

 

 

2 - AS DIVERSAS VISÕES DO CAPITAL DE GIRO

            Muitas são as definições que envolvem o capital de giro, indo de exemplos simplistas, passando por algumas tecnicamente mais bem elaboradas, até desaguar em conclusões mais esdrúxulas.  Entretanto de acordo com pesquisa realizada por Roque (1999) não há discordância abusiva entre as opiniões dos autores, mas sim colocações de forma diferenciada.

            Como definições simplistas podemos citar àquelas que consideram o capital de giro simplesmente como a soma do Ativo Circulante. Os autores que sustentam esta definição enfatizam o aspecto de curto prazo dos recursos disponíveis para a sustentação das atividades operacionais das empresas.

            As definições mais bem elaboradas são aquelas que evidenciam uma dinâmica operacional da empresa face às entradas e saídas de recursos. Os autores desse grupo entendem a forma dinâmica do capital de giro que é dada pela subtração dos recursos de curto prazo do Ativo Circulante pelo Passivo Circulante. De certa forma todos os autores reconhecem esta dinâmica, preferindo identificá-la como Capital de Giro Líquido ou pelo nome de Capital Circulante Líquido. 

Pacheco Filho (1991) relata que o caso mais famoso de conceito esdrúxulo de capital de giro foi feito por um dirigente do mercado financeiro, quando disse ser capital de giro igual a diferença entre o total do Patrimônio Líquido e o Ativo Permanente.

            Para Cherry (1997) capital de giro em finanças, denota os ativos que normalmente devem circular e ser substituídos, pelo menos em parte, durante o ciclo operacional corrente da empresa correspondente aos ativos correntes.

 

            Sanvicente (1996) diz que capital de giro pode ser chamado de ativos correntes ou ativos circulantes. Em geral esses ativos compreendem os saldos mantidos pelas empresas nas contas de disponibilidades, investimentos temporários, contas a receber e estoques.

Os autores Assaf Neto e Silva (1995) são também de opinião que o capital de giro ou capital circulante é representado pelo Ativo Circulante. Isto é, pelas aplicações correntes, identificados geralmente pelas disponibilidades, valores a receber e estoques. Num sentido mais amplo o capital de giro representa os recursos demandados por uma empresa para financiar suas necessidades operacionais identificadas desde a aquisição de matéria prima ou mercadoria até  recebimento da venda do produto acabado.

            Com uma nova visão Solomon (1997) relata que o termo capital de giro é freqüentemente usado em referência aos Ativos Correntes da empresa e por capital de giro líquido entende-se a diferença entre Ativos e Passivos Correntes. 

Podemos perceber esta dinâmica pela visão de Gropelli & Nikbakht (1998) que por definição, capital de giro é a quantia de dinheiro que sobra após os passivos circulantes serem subtraídos dos ativos correntes.

            O conceito de capital de giro deve traduzir técnica e contabilmente a capacidade da empresa em determinado momento de saldar suas obrigações. Neste sentido o capital de giro é um conceito estático, enquanto que a capacidade de pagamento é dinâmica. Pacheco Filho (1991) ressalta essa posição quando se refere que as formas de apuração do capital de giro não permitem que sejam elucidadas as maiores dúvidas inerentes ao seu processo de análise. A simples confrontação dos Ativos e Passivos Circulantes apenas mostra um resultado apurado de valores devedores e credores, não guardando, entretanto, na maioria dos casos nenhuma relação entre si.

            Dessa forma as relações do capital de giro são inúmeras e podemos até dizer que muitas ainda não são conhecidas. Masi (1945) apud Sá (1990) já revelava que o capital de giro é constituído de elementos da substância patrimonial que não conservam a forma de aquisição e destinação. São utilizados para vários fins, renovam-se constantemente e devem encontrar a cada ato produtivo da empresa sua reintegração. Assim, em sua visão, o dinheiro é aplicado em mercadorias, estas com a venda podem se transformar em créditos ou novamente em dinheiro ou ainda em outras mercadorias.

            Além das considerações da forma na dinâmica do capital de giro, outro importante fator para análise é a temporalidade. De acordo com Frezatti (1997) no capital de giro os prazos de pagamento e recebimento fazem com que caixa e lucro sejam diferentes por questão temporária. Em certos momentos, os valores deveriam se igualar se todos os elementos transformassem em caixa no mesmo momento; infelizmente, a variável tempo gera diferentes momentos para que isto não aconteça.

            Discorrer sobre a teoria do capital de giro é assunto extenso e esta, sem dúvida, não é nossa proposição. Contudo, também não podemos deixar de mencionar estes múltiplos olhares sobre suas conceituações e característica, sem a qual, dificilmente poderíamos chegar ao ponto que gostaríamos.

 

3 – ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CAPITAL DE GIRO

Há basicamente dois elementos que devem ser verificados com muito cuidado na análise do capital de giro. O primeiro é o aspecto da temporalidade dos recursos e o segundo é a formação destes recursos.

Por temporalidade de recursos entendemos a dinâmica de tempo a que está submetidos os diversos itens que compõem o capital de giro. Esta dinâmica é refletida no capital de giro, principalmente, através da análise do fluxo de caixa. As entradas e saídas de recursos da empresa não acontecem em prazos concatenados, apresentando duas situações básicas: A primeira situação é que os recursos que entram são maiores do que os recursos que saem, a segunda é o inverso, isto é: os recursos que saem são maiores que os recursos que entram. Esta dinâmica de tempo impacta, diretamente, o fluxo de caixa e a gestão do capital de giro, visto que o caixa recebe primeiro, para pagar depois ou então paga primeiro, para depois receber. Estas situações são, sem sombras de dúvidas, as questões mais importantes do gerenciamento do capital de giro.

            No aspecto da formação dos recursos de capital de giro, apesar das várias visões mostradas, são considerados basicamente para análise três itens: as contas a receber, os estoques e as contas a pagar.

            Contas a receber compreendem os valores a serem recebidos pela empresa por ocasião dos vencimentos das suas vendas a prazo

            Os estoques representam os investimentos aplicados para a operacionalidade da empresa, são os insumos necessários para a realização das vendas, constituídas de produtos fabricados ou mercadorias adquiridas.

            Por contas a pagar entendem-se os valores que deverão ser pagos, em épocas futuras, oriundos das compras a prazo efetuados pela empresa.

            As análises da formação dos recursos de capital de giro são realizadas, via de regra, por valores ou por prazos médios. Nestes aspectos, tanto a contabilidade, quanto a área financeira da empresa são homogêneas no entendimento dos termos técnicos utilizados e seus devidos cálculos. Dessa forma, temos que para os itens de contas a receber os Prazos Médios de Valores a Receber - PMVR. Para os estoques os Prazos Médios de Estocagem - PME e para as contas a pagar os Prazos Médios de Fornecedores - PMF.

            Os cálculos de prazos médios podem ser encontrados em qualquer livro de administração financeira e são, geralmente, medidos em função da média do período analisado.

 

A perfeita sincronia entre tempo e formação de recursos é que garantirá a sobrevivência da empresa e, conseqüentemente, sua lucratividade. Esta sincronia é mostrada pelos ciclos econômicos e financeiros da empresa. Dessa forma, uma boa gestão do capital de giro, passa, necessariamente, por entender, analisar, controlar e avaliar as decisões que envolvam estes fatores.

Os ciclos econômicos e financeiros do capital de giro podem ser interpretados conforme figura 1 abaixo indicada retirada da obra de Assaf Neto e Silva (1995):

 

Figura 1 – Ciclo Operacional, Econômico e Financeiro.

Compra de                     Início de                     Fim da

Matéria Prima                Fabricação                 Fabricação                      Venda                        Recebimento

 

                   PME                          PMF                               PMV                                PMC

|----------------------------------|--------------------------|----------------------------|-------------------------------|

|                           |                                                                                           |

|                           |               Ciclo Operacional                                               |

|-------------------- ----------------------------------------------------------------------------------------------------|

|                           |                Ciclo  Financeiro (Caixa)                                   |

|                           |----------------------------------------------------------------------------------------------------|

|                                                                                                                       |

|                                            Ciclo Econômico                                               |

|------------------------------------------------------------------------------------------|

 

Onde:

 

PME = Prazo Médio de Estocagem

PMF – Prazo Médio de Fabricação

PMV = Prazo Médio de Vendas

PMC = Prazo Médio de Cobrança

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Logicamente que a gestão do capital de giro, a partir das decisões de tempo e formação de recursos envolvem os tipos de políticas de preços que a empresa adota. Ross et alii (1995) nos mostra que a política que uma empresa dota nas suas finanças de curto prazo tende a ser composta de dois elementos:

 

a)      A magnitude de seu investimento em Ativo Circulante. Isto é geralmente medido em relação ao nível de receitas operacionais da empresa. Uma política financeira de curto prazo flexível manteria uma elevada proporção entre Ativo Circulante e Vendas. Uma política financeira mais restritiva faria com que essa proporção fosse baixa.

b)      O Financiamento do Ativo Circulante. Isto é medido pelo quociente entre as dívidas de curto prazo e as dívidas de longo prazo. Uma política financeira restritiva fará com que essa proporção seja elevada, e uma política financeira flexível significará menos endividamento de curto prazo e mais endividamento de longo prazo.

Por isso concordamos quando Bodie e Merton (1999) se referem que na realidade, todas as decisões tomadas em uma empresa são parcialmente financeiras, porque envolvem trocas entre custos e benefícios disseminados ao longo do tempo.

            Fica claro que a gestão do capital de giro é de fundamental importância para a empresa. Acontece, que o padrão adotado de mensuração de capital de giro realizado a partir de prazos médios, de valores globais de contas a receber, estoque s e contas a pagar não está mais satisfazendo as necessidades de informações contábeis gerenciais para análise de precificação e de verificação do impacto, de cada produto ou mercadoria, no capital de giro da empresa. Estes só podem ser obtidos, mediante utilização de critérios individuais em detrimento aos valores médios ou globais de contas contábeis.

 

4 - MENSURAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO POR PRODUTO

O capital de giro por produto ou capital de giro unitário é o cálculo efetuado do capital de giro de forma individualizada, isto é: efetuado por cada produto ou mercadoria ao invés do cálculo englobando as contas contábeis que engloba todos os produtos ou mercadorias da empresa. Apareceu na literatura técnica Brasileira pelas obras de Roberto Assef dirigidas aos dirigentes de pequenas e médias empresas, muito embora possa ser aplicado a qualquer tipo de empresa, uma vez que individualiza o cálculo do produto ou mercadoria.

            Quando efetuamos o cálculo do capital de giro de maneira ampla, só temos a noção do quanto precisamos ou se há folga de caixa no capital de giro, mas não conseguimos perceber, entre a diversificação de produtos ou mercadorias, como que cada um impacta o capital de giro, quer como tomador de recursos do caixa, quer como gerador de recursos de caixa.

            A analise do capital de giro por produto permite, ainda, uma análise de comparação entre retorno do investimento para o fluxo de caixa e sua comparação as margens de contribuição de cada produto. Um produto pode estar gerando uma margem de contribuição mais alta, porém exige uma elevada captação de recursos de terceiros, ao passo que produtos com menor margem de retorno, podem estar gerando recursos para o caixa. De certa forma, esta análise é quase sempre deixada de lado pelos analistas contábeis e financeiros em seus relatórios gerenciais.

            Nos produtos ou mercadorias incorrem, basicamente, dois tipos de custos, em razão do custeio direto que são os custos fixos e os custos variáveis.

            Os custos fixos são aqueles que não dependem dos níveis de faturamento ou de produção. Podemos exemplificar, entre outros, os custos de natureza fixa, tais como salários e encargos de pessoal administrativo, aluguéis de escritórios administrativos, tarifas públicas, material de consumo e alguns tipos de serviços prestados à empresa.

Os custos variáveis, ao contrário, são os que oscilam em função da produção ou faturamento. Temos, entre outros, as matérias primas, impostos incidentes sobre vendas, comissões de vendedores, fretes de entrega e mão de obra direta.

            Considerando somente os custos variáveis podemos obter a Margem de Contribuição de cada produto por:

 

MC = PV – CV

Onde:

MC = Margem de Contribuição

PV = Preço de Venda

CV = Custo Variável

            Desta forma, podemos detectar os produtos ou mercadorias mais ou menos lucrativos da empresa, desconsiderando a parcela dos custos fixos nos preços de vendas. O que normalmente observa é um rateio dos custos fixos operacionais a cada um dos produtos, de tal maneira que a margem obtida fica totalmente comprometida pela incorporação dos custos fixos ao produto ou mercadoria.

            De acordo com Assef (1997) as Margens de Contribuição não devem ser os únicos fatores decisivos sobre as políticas comerciais de sua empresa, mas sim considerado num conjunto de fatores, que incluem os volumes comercializados, o capital de giro demandado ou originado por cada um e os reflexos nos demais produtos da empresa.

            A análise individual da margem de contribuição de contribuição utilizado pela Contabilidade Gerencial, muitas vezes, para determinação dos produtos ou mercadorias mais lucrativos podem fazer com que, a eliminação de produtos menos lucrativos da carteira de vendas da empresa, tenham queda de vendas acentuada ou impactos negativos em seu capital de giro total.

O cálculo global do capital de giro global é dado pela fórmula:

CG = CP-(CR+E)

 Onde:

CG = Capital de Giro

CP = Contas a Pagar

CR = Contas a Receber

E = Estoques

Em nível de valores, quando o resultado apurado for ‘positivo’, temos produtos ou mercadorias geradoras de caixa, quando o resultado for ‘negativo’, temos produtos ou mercadorias tomadoras de caixa.

            Tomemos por base o exemplo fornecido por Assef (1999) da venda de um produto ou mercadoria qualquer  conforme tabela 1 abaixo:

Tabela 1 – Cálculo de Capital de Giro Unitário

 

 

 

 

 

 

ALÍQUOTAS

 

 

 

DADOS

 

% Crédito ICMS matéria-prima

 

18,00

 

Preço de Venda

160

% Débito ICMS

 

18,00

 

Custo da Mercadoria

100

% COMISSÃO

 

2,00

 

Prazo de Venda

30

% PIS

 

0,65

 

Prazo de Compra

15

% COFINS

 

2,00

 

Dias de Estoque Matéria-prima

30

% IR

 

1,20

 

 

 

% CSSL

 

0,96

 

Custo Financeiro Mensal

2 %

 

 

 

 

Fator Diário

1,0007

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

% Margem de Contribuição

 

 

 

 

 

Atingida

23,33

 

 

 

 

 

 

 

 

NOMINAL

 

PRAZO

REAL

Preço de Venda

 

160,00

 

30

156,86

Matéria-prima

 

-100,00

 

15

-99,01

Comissão

 

-3,20

 

15

-3,17

Crédito ICMS M.P.

 

18,00

 

25

17,71

Débito ICMS

 

-28,80

 

25

-28,33

PIS

 

-1,04

 

30

-1,02

Cofins

 

-3,20

 

25

-3,15

IRPJ

 

-1,92

 

75

-1,83

CSSL

 

-1,54

 

75

-1,46

Margem de Contribuição

 

38,30

 

 

36,60

% Margem de Contribuição

 

23,94

 

 

23,33

 

 

 

 

 

 

CAPITAL DE GIRO UNITÁRIO

 

 

 

 

 

Contas a Receber

 

-160,00

 

 

 

Estoques

 

-100,00

 

 

 

Contas a Pagar M. Prima

 

50,00

 

 

 

Contas a Pagar PIS

 

1,04

 

 

 

Contas a Pagar COFINS

 

2,67

 

 

 

Contas a Pagar IR+CS

 

3,84

 

 

 

Contas a Pagar ICMS

 

9,00

 

 

 

Total

 

-193,45

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rentabilidade Operacional %

 

19,80

 

 

 

 

            Em termos de análise do capital de giro por produto, o prazo concedido ao cliente, bem como os recursos alocados ao estoque, impactam negativamente, pois são recursos próprios ou eventualmente de terceiros, utilizados para financiar as vendas do produto ou mercadoria. Por isso são computados na fórmula como negativos. Devemos entender que este sinal negativo não como um prejuízo, mas como indicador de tomador de recursos de giro da empresa.

            Deve-se entender, também, que o prazo concedido pelos fornecedores é investimento realizado por terceiros na empresa, portanto, gerador de recursos, pois, através dele, é possível financiar as vendas e os estoques. Portanto, da mesma forma, não pode ser considerado como lucro. Na fórmula é considerado como positivo.

            Outro aspecto a ser considerado no exemplo acima é que as alíquotas dos impostos são válidas exclusivamente para as empresas que optaram pelo regime de Lucro Presumido. Se, ao contrário, a empresa optar por regime de Lucro Real, alguns dos tributos acima não farão parte do preço de venda, pois serão apurados pelo resultado global do período.

Pela análise do exemplo podemos verificar que para uma margem de contribuição nominal de 24% o capital de giro unitário indica-nos um produto tomador de caixa. Este valor indica que para cad unidade vendida nas condições estipuladas, a empresa necessita empregar a quantia de R$ 193,45 em capital de giro.

            Agora, imaginemos que a empresa consiga um aumento no prazo concedido pelo fornecedor de 15 para 30 dias e que há uma redução do prazo médio de estoques de 30 para 150 dias. Neste caso a tabela 2 abaixo calculada nos mostraria os seguintes resultados:

 

 

 

 

Tabela 2 – Capital de Giro Unitário – Simulação de Alteração de Prazos

 

 

 

 

 

 

ALÍQUOTAS

 

 

 

DADOS

 

% Crédito ICMS matéria-prima

 

18,00

 

Preço de Venda

160

% Débito ICMS

 

18,00

 

Custo da Mercadoria

100

% COMISSÃO

 

2,00

 

Prazo de Venda

30

% PIS

 

0,65

 

Prazo de Compra

30

% COFINS

 

2,00

 

Dias de Estoque Matéria-prima

15

% IR

 

1,20

 

 

 

% CSSL

 

0,96

 

Custo Financeiro Mensal

2

 

 

 

 

Fator Diário

1,0007

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

% Margem de Contribuição

 

 

 

 

 

Atingida

23,95

 

 

 

 

 

 

 

 

NOMINAL

 

PRAZO

REAL

Preço de Venda

 

160,00

 

30

156,86

Matéria-prima

 

-100,00

 

30

-98,04

Comissão

 

-3,20

 

15

-3,17

Crédito ICMS M.P.

 

18,00

 

25

17,71

Débito ICMS

 

-28,80

 

25

-28,33

PIS

 

-1,04

 

30

-1,02

Cofins

 

-3,20

 

25

-3,15

IRPJ

 

-1,92

 

75

-1,83

CSSL

 

-1,54

 

75

-1,46

Margem de Contribuição

 

38,30

 

 

37,58

% Margem de Contribuição

 

23,94

 

 

23,95

 

 

 

 

 

 

CAPITAL DE GIRO UNITÁRIO

 

 

 

 

 

Contas a Receber

 

-160,00

 

 

 

Estoques

 

-50,00

 

 

 

Contas a Pagar M. Prima

 

100,00

 

 

 

Contas a Pagar PIS

 

1,04

 

 

 

Contas a Pagar COFINS

 

2,67

 

 

 

Contas a Pagar IR+CS

 

3,84

 

 

 

Contas a Pagar ICMS

 

9,00

 

 

 

Total

 

-93,45

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rentabilidade Operacional %

 

40,99

 

 

 

 

            Podemos verificar que mantida o mesmo preço e a mesma margem de contribuição do produto, os prazos impactam de forma significativa no caixa em na rentabilidade da empresa, pois agora serão necessários apenas R$ 93,45 de recursos de capital de giro e a rentabilidade do produto aumentou de 19,80% para 40,99%.

            Assef (1999) nos mostra que os cálculos da Rentabilidade Operacional indicada na planilha são dados pela fórmula:

RO = - (CGU/MCN) / 100

Onde:

RO – Rentabilidade Operacional

CGU = Capital de Giro Unitário

MCN = Margem de Contribuição Nominal

            Com a utilização da Planilha acima, poderíamos não somente calcular o capital de giro por produto, mas também fazer simulações de condições de compra e venda de modo a tornar este produto gerador de caixa ou invés de tomador de caixa.

 

5 - CONCLUSÃO

            O capital de giro pode ser estudado sob diversas formas de maneira complementar e não antagônicas, mas Marques (1990) repara três abordagens evolutivas do conceito de capital de giro da seguinte maneira: na primeira é apenas enfatizado o aspecto de curto prazo, de pagamento de obrigações em face de liquidez da empresa. Na segunda, analisa-se também o aspecto dinâmico do conceito – previsão dos futuros fluxos de capital de giro e são apresentados questionamentos sobre classificação de Ativos e Passivos em Circulantes e Não Circulantes. Na terceira abordagem é enfatizados o estudo e dinâmica do capital de giro em face de evidenciação da situação de liquidez da empresa através do caixa, principalmente através do instrumento conhecido como Demonstração de Fluxo de Caixa.

            Logicamente que um produto ou mercadoria pode assumir a forma de tomador ou gerador de recursos de caixa e estas situações impactam o caixa da empresa e sua operacionalidade. Os analistas contábeis e financeiros devem ficar atentos que num mercado altamente competitivo informações estratégicas de produtos são considerados uma vantagem competitiva.

            O cálculo do capital de giro por produto e a sua rentabilidade operacional pode ser de grande valia, por exemplo, na análise de recebimento de uma proposta de compra de produto ou mercadorias com desconto.

            A mensuração do capital de giro por produto ou capital de giro unitário é fonte importante de informações para tomada de decisões financeiras e deve ser incluída nos relatórios da Contabilidade Gerencial das empresas industriais ou comerciais.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSAF NETO, Alexandre & SILVA, César Augusto Tibúrcio. Administração do Capital de Giro. São Paulo: Atlas, 1995.

ASSEF, Roberto. Guia Prático de Formação de Preços: aspectos metodológicos, Tributários  e financeiros para pequenas e médias empresas. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

ASSEF, Roberto. Guia Prático de Administração Financeira.Rio de Janeiro: Campus, 1999.

BRAGA, Roberto. Fundamentos e Técnicas de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1997.

BRIGHAM, Eugene F. & HOUSTON, Joel F. Fundamentos da Moderna Administração Financeira. Rio de Janeiro: Campus, 1999,

CHERRY, Richard T. Introdução à Administração Financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1977.

FREZATTI, Fábio. Gestão do Fluxo de Caixa Diário: como dispor de um instrumento       fundamental para o gerenciamento no negócio. São Paulo: Atlas, 1997.

GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. 3. ed. São Paulo:        Harbra, 1997.

GROPELLI, A. A. & NIKBAKHT, Ehsan. Administração Financeira. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1998.

HOJI, Masakazu. Administração Financeira: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 1999.

MARQUES, José A. V. Costa. Análise evolutiva do conceito de capital de giro. Revista Brasileira de Contabilidade. Brasília: CFC, n.73, novembro /1990.

MASI, Vicenzo. Statica Patrimoniale. Pádua: Cedan, 1945.

MEHTA, Dileep. R. Administração do capital de Giro. São Paulo: Atlas, 1978.

PACHECO FILHO, José Gomes. Capital de Giro e sua análise: alerta necessário.    Contabilidade Vista & Revista. Belo Horizonte: FACE/UFMG, v. 3, n. 1 , Ago/1991.

ROQUE, Cléria Augusta. Metodologias de Cálculo de Capital de Giro. Coronel Fabiciano:        ICMG, 1999. Monografia.

ROSS, Stephen A. et alii. Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1995

SÁ, Antônio Lopes de. Dicionário de Contabilidade. 8. Ed. São Paulo: Atlas, 1990.

SANVICENTE, Antônio Zorato. Administração Financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

SOLOMON, Ezra. Teoria da Administração Financeira. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

 

* Contador e Especialista em Contabilidade pela PUC-MG

   Coordenador do Curso de Ciências Contábeis do Centro Universitário do Leste de Minas

   Gerais – UnileteMG

   Membro da Academia Mineira de Ciências Contábeis

 

 

 

 

ARTIGO PUBLICADO – REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

SERRA NEGRA, Carlos Alberto. Mensuração Paramétrica do Capital de Giro por Produto. Anais do I Seminário USP de Contabilidade. São Paulo: USP, 2001.